TRÊSMAISUM | 1998

Sem a preocupação de mostrar uma estória, tema ou personagem, o espetáculo se apresenta como resultado de uma pesquisa que desenvolveu-se sobre a relação som/movimento ou música/dança, suas possibilidades e multiplicidades. Essa relação pode ser feita pelo tipo de movimento que o som provoca, a busca de uma nova leitura ou por um contraponto.

Mas a prova nesse caso é que esses elementos, o som e o movimento, não conseguem ser imunes um do outro. Partindo de 4 (quatro) compositores, o espetáculo se divide respectivamente em 4 partes, sendo que cada uma com características próprias desenvolvidas pela musicalidade desses compositores.

Goldie é um londrino com músicas de estilo drum'n bass, que sugere um estranho ambiente musical, onde os movimentos e o que está diretamente relacionado a ele, se independem. São elaborações avulsas com caráter visual plástico e frio, onde o único ponto em comum é esse estranho ambiente de sons e possibilidades.

Com Tom Zé, compositor baiano e um dos precursores do Tropicalismo, os movimentos são efeitos visuais mostrados pelos corpos dos bailarinos, surgindo ações e "personagens" que resultam em seqüências ricas de sutilezas e detalhes coreográficos. Tudo com uma certa característica descompromissada e cômica, estimuladas pelos efeitos sonoros e a irreverência musical encontrada nas músicas de Tom Zé.

Com Peter Scherer, um compositor norte-americano de estilo experimental com forte base ritmica brasileira, os movimentos são pequenas frases que ora se repetem, ora se somam resultando em construções e desconstruções coreográficas, impulsionadas pela força e riqueza da sonoridade desse compositor.

Sobre Mestre Ambrósio, uma banda pernambucana de sons e ritmos nordestinos, o que vale é trabalhar o impulso descontrolado de se movimentar e o que isso pode resultar, não perdendo o objetivo de buscar novas leituras desses movimentos. Uma certa "brasilidade" se fará presente, mas apenas como uma roupagem de movimentos.